“O progresso é o desenvolvimento da ordem, assim como a ordem é a consolidação do progresso.”
(Auguste Comte)
Colégio Militar do Rio de Janeiro
A propagação do Positivismo estabeleceu diferenças de acordo com as condições locais, sendo que, no caso brasileiro, a expansão da imigração, a abolição da escravidão, a ascensão econômica de novas elites ligadas ao café, a profissionalização do exército, o fim da Monarquia e o início da República, entre outras mudanças, foi criado um cenário extremamente receptivo ao Positivismo. Essa receptividade se materializou em uma enorme influencia do Positivismo de Comte e de seus seguidores tanto em correntes de pensamento relacionadas com a reflexão sobre a ciência e seu desenvolvimento no país, como também no movimento republicano e nas reformas educacionais da Primeira República.
No âmbito geral, as elites brasileiras consideravam o positivismo como uma chave de acesso para a modernidade, inclusive justificando os meios autoritários para alcançá-la, propondo a verdadeira democracia por meio da subordinação consciente dos cidadãos a uma hierarquia administrativa consolidada por uma ditadura cientifica capaz de vencer os estágios de atraso e estagnação que, numa linearidade evolucionista, leva-nos-ia ao progresso.
Embora a existência de universidades de prestigio e de renomados professores seja condição para a criação e transmissão do conhecimento, impulsionando o desenvolvimento das ciências, os positivistas entendiam que o ensino, mantido pelo Estado, seria controlado e censurado pelo poder político, com caráter conservador, o que impediria a pesquisa livre e a fundamentação do progresso.
Contrários à criação de uma universidade, os positivistas desenvolveram enorme influencia no pensamento produzido nas escolas técnicas, militares e faculdades, destacando-se, em particular, a Escola Politécnica e a Escola Militar do Rio de Janeiro, assim como a Faculdade de Direito do Recife, não só pela sua defesa da importância das ciências exatas e naturais, modelos do pensamento objetivo de Comte, como pelo projeto de transformação social capaz de superar o atraso a que o Brasil estava relegado.
Faculdade de Direito do Recife, atual UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)
No início da República se aplicou um conjunto de mudanças, que sob a influência positivista, determinou que:
· O ensino secundário, que no Distrito Federal e no Rio de Janeiro, limitava-se ao Ginásio Nacional, superava o objetivo introdutório, adquirindo o sentido de formação educativa em si mesmo;
· Alterava o currículo, estruturando-o com uma parte de ciências fundamentais, a partir da ordem lógica proposta por Comte;
· Afirmava-se o aspecto físico, estético e moral da aprendizagem (em disciplinas como ginástica, música, desenho e moral), como também a preocupação com o desenvolvimento de uma compreensão das dinâmicas sociais (além de História Universal e do Brasil, havia ainda Sociologia, Direito Pátrio e Economia Política);
· A introdução precoce, inspirada em um intelectualismo irrealista, de disciplinas que o próprio sistema comtiano não propunha como modelo para adolescentes e sim para adultos.
Em 1911, ocorre uma reforma no código de ensino e valoriza as ideias positivistas, como a adoção de critério prático no estudo das disciplinas, a ampliação da liberdade de ensino e de frequência, assim como a transferência para as faculdades do exame de acesso ao ensino superior.
Embora Comte tenha desenvolvido um sistema de pensamento cientificista e racionalista, o Positivismo, no qual ocorre uma exposição geral da doutrina e do método científico, não é verdade que todos aqueles que sejam cientificistas e racionalistas sejam discípulos de Comte, e, sim que se utilizam de procedimentos gerais de investigação e de uma maneira de interpretar os fenômenos que já haviam sido propostos 200 anos antes do nascimento desse pensador, e que fazem parte de uma herança comum do pensamento contemporâneo.